AS
MINHAS ÚLTIMAS HORAS FORAM UMA VERDADEIRA NOVELA DAS OITO OU NOVE DAS BOAS. Por incrível que
pareça, perdemos a escritura da nossa casa dentro da nossa própria casa. Minha
família se mobilizou para acha-la e a cada envelope novo que encontrávamos, uma
nova surpresa e uma nova decepção. Para ficar caricato e mais improvável,
faltava somente um sambinha toda vez que alguém fazia cara de “também não está
aqui”.
Enquanto
eu procurava, achei pérolas e raridades que jamais havia visto: antigos
bilhetinhos de amor trocados por meus pais, os boletins escolares de ambos,
exames de sangue, garantias de produtos diversos o manual de uma velha máquina
de lavar um guia ensinando a tirar fotografias “como um profissional” a antiga
câmera fotográfica da família que supostamente tirava fotografias profissionais
uma flauta e umas cartas de tempos imemoriais enviadas para diversos endereços
diferentes, já que moramos em diversos endereços ao longo da vida; e nada de escritura.
Não
sei como nunca perdemos outra escritura! Justo na casa atual, a que nos abriga
há mais primaveras e verões, falhamos miseravelmente assim. A caça ao tesouro deu como frutos
teorias sobre a casa e sobre o paradeiro da escritura: “Esse guarda-roupa tem
umas fendas meio esquisitas, né? Com certeza a escritura escorregou e se enfiou
numa delas. Vamos ter que desmontar o guarda-roupa. Pronto! É isso!” – minha
mãe. “Não está aqui. Estamos procurando como loucos e a bendita não está aqui” –
outra vez minha mãe. “Nunca existiu uma escritura!” – pela terceira vez minha
mãe. “Amanhã a gente procura isso direito” – meu pai. “Ou quando não estivermos
procurando a escritura aparece” – encerrou sabiamente as explorações, minha
mãe.
Ainda
bem que estávamos procurando a escritura por um motivo razoável e não por
vingança ou por disputar uma herança. Às vezes a vida vira uma novela e
permanece com o gosto de sobriedade e de realidade, por que às vezes é bom
viver o que as atrizes e os atores fazem parecer tão distante. Para quem diz
que a arte imita a vida e a vida imita a arte, um abraço e um beijo molhado da TV aberta, onde a
arte imita a arte e a vida imita a vida.

Nenhum comentário:
Postar um comentário