HÁ
SEIS MESES EU NÃO ACORDAVA COM A BOCA IMPREGNADA DE SAL. É uma sensação
estranha, porém, pouco inusitada. Como disse, já acordei salgado. E vou além:
pronto para ser selado com azeite e ervas, assado com batatas graúdas, posto à
mesa em uma travessa comprida e devorado com talheres importados. Naquela
época, causaria uma intensa indigestão; hoje, talvez fosse diferente, seria uma
indigestão com um sentimento de “tem um pouco menos de sal” – graças aos meus
esforços para controlar a alimentação.
Vejo
muitas pessoas que lutam diariamente contra a saudade e admiro essas pessoas profundamente.
Não precisa ser uma saudade da companheira ou do companheiro, pode ser aquela
falta que faz aquela amiga, aquele amigo, aquele tio, aquela prima vovó vovô nêmeses
peixinho abajur livro patinho de borracha lápis mordido verão março julho Júlio
embrulho.
Existem
momentos do dia, quando você está em uma situação plena consigo mesmo, que uma
brisa diferente sacode a sua cabeça e, entrando pelos poros da pele, sem motivo
aparente, chega ao sangue e você já sabe como funciona a rota do sangue. Você
sabe que se ele não passar pelo coração, se não for bombeado para o seu corpo
todo, você morre. Sentir saudade é ter cerca de cinco litros de sangue subindo
e descendo e ingerir muito sal, prejudicando essa circulação natural ao ponto
de existirem dores físicas e muitas vezes psicológicas que nos desestabilizam e
ocasionalmente nos fazem expelir pelos olhos, que até então não tinham nada com
isso, lágrimas-o-que? Salgadas.
Assim,
sal é sal e este faz mal para o corpo quando consumido em excesso. Não adianta
dizer que ficar longe de alguém um ano é mais danoso que ficar distanciar-se
por um dia. Comer um quilograma de sal no almoço pode ser muito pior que comer cinco
quilogramas de sal em seis meses. Como não sou médico – só acho um monte de
coisas –, não vou recomendar uma dose específica e controlada para ninguém,
prefiro uma dica mais simples: evite. Saudade é saudade e dói como uma artéria
comprometida, como um rim que não filtra ou como um estômago embrulhado que
atrapalha o funcionamento do organismo.
Eu
não evito o sal à toa. São dois os motivos: o primeiro é que a minha família
tem um vasto histórico de hipertensos e acho justo eu querer cuidar da minha
saúde; o segundo é por que, como já disse repetidas vezes, já acordei com a
boca cheia de sal outras vezes. Quando estou sozinho, não salgo a batata frita
nem meus dedos em aperitivo por que eu simplesmente odeio a saldade.

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