quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Deu ruim

SABE O QUE DEU RUIM RECENTEMENTE? Não, não foi a colheita anual das jabuticabas que eu nem gosto e tenho que ouvir de todos: “como você não gosta de jabuticaba, menino?”. Poxa, além de não gostar, não sou mais menino. Sou no mínimo “mocinho”, aceito “jovem” e paro no “rapaz”; depois disso é tudo muito adulto. Independente disso, todo mundo diz que dessa vez elas estão mais doces e graúdas. Elas, as jabuticabas.

Uma propriedade interessante da fruta roxa e graúda é o efeito sonífero. Muitos que sofrem com insônia, aproveitam essa época do ano e se dopam com jabuticabas para dormir dignamente. Meus pais, coitados, parecem bebês gigantes. Outros, com o mesmo intuito de dormir, não por sofrerem com esse mal do sono, mas por assistirem continuamente à ruína do ser humano, têm que recorrer a esse recurso roxo. E eu? Se a jabuticaba não me apetece, deu ruim.

Ontem, por intermédio de minha companheira fiquei sabendo da existência de uma “Escola de predadores”, um curso sobre a “Arte de pegar mulher”. É o fim da picada, e o fim dos trocadilhos. De acordo com os relatos de um participante das aulas, esse curso ensina o homem a virar homem. Isso contraria imediatamente o título “Arte de pegar mulher”. Afinal, moleque pega mulher. O homem que quer se relacionar como um ser humano tem a mínima obrigação de tratar seus semelhantes bem para ser tratado bem. Ninguém pega ninguém sem a conotação de objetificação humana. Isso cansa minha mente e os meus olhos sem me deixar exausto para dormir. De todas as coisas que usurpam o meu sono, essa resolveu se destacar.

Acho que, se chegamos ao ponto de ensinar uns aos outros a sermos superficiais e objetificadores, criaturas cuja capacidade máxima se encontra na habilidade de somar a currículos do ego um número de ficadas e pegadas, a conta da raça humana, a nossa ficha criminal, com todas as porcarias um dia feitas, ou seja, guerras, preconceitos, ideais egoístas e muito mais, chegou a um ponto limite. Estou realmente preocupado com as pessoas e com os rumos. Parece careta, e mais careta ainda de uma pessoa que não ingere bebidas alcoólicas nem tem predisposição para experimentar tudo que o mundo oferece. Digo que não gosto de jabuticaba, mas nunca provei. E não sei se adianta. Não sei se a partir de agora a jabuticaba vai funcionar em todos como antes. Não sei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário