SABE
O QUE DEU RUIM RECENTEMENTE? Não, não foi a colheita anual das jabuticabas que
eu nem gosto e tenho que ouvir de todos: “como você não gosta de jabuticaba,
menino?”. Poxa, além de não gostar, não sou mais menino. Sou no mínimo
“mocinho”, aceito “jovem” e paro no “rapaz”; depois disso é tudo muito adulto. Independente
disso, todo mundo diz que dessa vez elas estão mais doces e graúdas. Elas, as
jabuticabas.
Uma
propriedade interessante da fruta roxa e graúda é o efeito sonífero. Muitos que
sofrem com insônia, aproveitam essa época do ano e se dopam com jabuticabas
para dormir dignamente. Meus pais, coitados, parecem bebês gigantes. Outros, com
o mesmo intuito de dormir, não por sofrerem com esse mal do sono, mas por
assistirem continuamente à ruína do ser humano, têm que recorrer a esse recurso
roxo. E eu? Se a jabuticaba não me apetece, deu ruim.
Ontem,
por intermédio de minha companheira fiquei sabendo da existência de uma “Escola
de predadores”, um curso sobre a “Arte de pegar mulher”. É o fim da picada, e o
fim dos trocadilhos. De acordo com os relatos de um participante das aulas,
esse curso ensina o homem a virar homem. Isso contraria imediatamente o título
“Arte de pegar mulher”. Afinal, moleque pega
mulher. O homem que quer se relacionar como um ser humano tem a mínima
obrigação de tratar seus semelhantes bem para ser tratado bem. Ninguém pega ninguém sem a conotação de
objetificação humana. Isso cansa minha mente e os meus olhos sem me deixar exausto
para dormir. De todas as coisas que usurpam o meu sono, essa resolveu se
destacar.
Acho
que, se chegamos ao ponto de ensinar uns aos outros a sermos superficiais e objetificadores,
criaturas cuja capacidade máxima se
encontra na habilidade de somar a currículos do ego um número de ficadas e
pegadas, a conta da raça humana, a nossa ficha criminal, com todas as porcarias
um dia feitas, ou seja, guerras, preconceitos, ideais egoístas e muito mais,
chegou a um ponto limite. Estou realmente preocupado com as pessoas e com os
rumos. Parece careta, e mais careta ainda de uma pessoa que não ingere bebidas alcoólicas nem tem predisposição para experimentar tudo que o mundo oferece. Digo que não gosto de jabuticaba, mas nunca provei. E não sei se adianta. Não sei
se a partir de agora a jabuticaba vai funcionar em todos como antes. Não sei.

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