sábado, 3 de janeiro de 2015

Virada

O FIM DO ANO É SEMPRE IGUAL E DIFERENTE CEM PORCENTO DAS VEZES. As pessoas se reúnem e festejam a passagem de mais um ano de sucesso, ou não. Todos ficam felizes com o que pode vir de bom dos próximos doze meses, ou não. A maioria faz promessas compridas que não serão cumpridas, ou não. Todo mundo deseja um próspero ano novo, ou sim. Quase ninguém quer desejar coisas específicas o suficiente para demonstrar apreço e preocupação.

Por isso, um dia, um ser humano teve uma ideia. Sua colheita de beterrabas estava ruim ao final de um ano qualquer e um ser humano qualquer disse a ele: “Acalme-se, o próximo ano será próspero”. O ser humano, além da horrível colheita, tinha outro “problema”: não se importava muito com a vida dos outros mas era, o tempo todo, pressionado pelo Mundo a manifestar-se favorável a respeito do próximo ano de seus semelhantes, assim como aquele da colheita havia feito. O ser humano lembrou-se exatamente disso e de sua vida e de sua colheita, beterrabas, pessoas; a resposta estava no “próspero”. Se ele desejasse um “próspero ano novo” às pessoas, estas, admiradas com a gentileza e com a estranheza da palavra, ficariam felizes.

Esse ser humano amaldiçoou as gerações futuras e hoje somos cada vez mais obrigados a sorrir e desejar toda a sorte de coisas para toda a sorte de pessoas com quem simplesmente não nos importamos. A trivialidade e a falta de intenção empregadas em um desejo que é formado por simples “educação” são similares ao silêncio. E, de acordo com a lei do mínimo esforço, o silêncio vence como tesoura vence papel.

Na virada de 2014 para 2015, eu decidi que não ia me preocupar muito com o que pensam sobre mim. Primeira resolução. Comecei com infinitos desejos para aqueles que moram no meu coração e podem continuar o quanto quiserem – seja os moradores com casa própria, aluguel ou seja aqueles que dormem em barracas. Inclusive, estou pronto para dizer que, se eles quiserem, eu mesmo ajudo a construir casas que não serão derrubadas pelo sopro do lobo mau no meu condomínio sangrento-no-bom-sentido. No sentido de estar vivo e de querer que outras pessoas continuem vivas. No sentido de estar bem e querer o bem.

2015, há vagas.

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