EXISTE ALGUM LUGAR MAIS DOCE E PROPÍCIO NESTE MUNDO PARA SER ANTRO DE DISCUSSÕES FILOSÓFICAS ACALORADAS E DISSIMULANTES QUE UM BAR? O som de bossa nova
escorrendo dos alto-falantes velhos, de segunda mão; o cheiro de óleo de ontem e
de batata sendo frita desde ontem; as lâmpadas sempre forçadas a trabalhar à
meia-luz a brisa da noite que atinge em cheio o segundo andar o movimento das
garçonetes e dos garçons as cantadas as contra-cantadas os tapas na cara os
beijos os clientes conversando cada vez mais alto e mais alto numa disputa com
a bossa nova que suprime o cheiro d’óleo mas não ameniza tom etílico das
palavras proferidas pelos Poetas, Filósofos e Antropólogos ali presentes.
Ah,
foi num Bar que conheci meu novo amigo que não é crítico literário, não é
universitário, não é cabeça-dura, porém é. Meu amigo, além de tudo que pôde, pode
ou poderá ser, é um apaixonado. A paixão dele chega a ser doentia, obsessiva.
Mas o que nessa vida duvidosa é são? Só por que eu não bebo sou mais sóbrio que
os pinguços? Não vou negar meu apreço pela minha
sobriedade, porém, não sei o que é sobriedade para os outros. Não sei qual é o seu estado pleno de paz. A única coisa
que sei é que tenho um amigo apaixonado.
Aprendi
muito com ele. Fui paciente. Fui honesto. E principalmente, fui mais ouvinte
que falante. Deixei a prosa com ele para depois contar sobre ele em prosa. Eu comentava
os dizeres, é claro, mas praticamente só balançava a cabeça concordando ou
discordando.
Estávamos
em pé, com outras pessoas, mas, por algum motivo, eu me tornei o centro das
atenções. O rumo da conversa foi direcionado ao meu eu escritor e me senti como o eu
lírico em uma poesia: tenso; “a qualquer momento, o Poeta pode me matar”.
Repito que não bebo e não bebi nenhuma gota do produto dourado que não é urina,
mas faz urinar. Tudo o que fiz foi aprender e me soltar de pouco em pouco.
Fiquei confortável e cada vez mais apto a trocar minha sobriedade pelo sabor de
uma bebida nova. Essa bebida, que agora carrego debaixo do baixo, para cima e
para braço, é o conhecimento extenso que agreguei naquela mesa de bar. Foram
horas felizes de conversa. Quatro pessoas começaram suas dissertações sobre a
vida e quatro pessoas engrandecidas terminaram diferentes e, julgo eu,
melhores.
No
Bar, dá para ficar tonto sem se embebedar. No Bar, dá para soluçar poesia,
arrotar epopeias e reclamar das ressacas que passaram e das que hão... de...
passar... No Bar.


