terça-feira, 24 de março de 2015

Cansaço

Acorda espera desliga fecha abre boceja coragem esforço levante equilibra senta sente coça boceja estica estica desiste levanta anda volta esquece anda dói água urina água rosto barba mal feita espuma lâmina não sim pelo água escorre rosto toalha interruptor interruptor caminha rasteja junta guarda pega carrega passos encosta abre escolhe copo bebe espera come bebe lava respira raso fundo prato escorre corre olha hora corre fecha desce erra andar desce correndo música acerta corredor saída bom dia saída anda depressa pressa atravessa espera volta rua carro espera atravessa essa vira córrego flui rua passeio condomínio não espera espera espera corre carro corre ônibus barulho movimento pessoas muitas gentes rua portaria lama barro choveu guarda-chuva não droga caminha mais depressa desvia celular poça pessoa música encontra outro conversa sorri reclama bolso hora ruído nada preguiça elevador senta levanta senta ouve ouve ideia escreve guarda pega caderninho não sim lápis sim desenho guarda ouve olha frente lado frente mesa braço pelo mão mais pelo anormal quadro conversa fim próximo escuta atento tento escrevo caderninho sorriso bocejo espreguiça estica mais acomoda apoia queixo queixa encosta brilha assina guarda levanta pega guarda-chuva chove chuva bom não mas sim conversa andando todos mais outros menos alguns procura acha beija sorri e aí continua despede procura descobre sobe entra espera assiste ouve fala pouco ouve mais entende não às vezes talvez anota levanta fim começa correria lama olha de cima sorri não vê não sem tempo voa fila dinheiro fila água mão fila serve fazer o quê fila copo suco igual ontem outra cor talher farinha engole mastiga não bebe empurra para limpa enquanto boca anda banheiro dente cospe corre duas horas quase atalho escorrega equilibra respira alívio peso doce não observa pessoas sentadas pessoas em pé pessoa sem pé pé d’água guarda-chuva xadrez merda portaria porteiro boa tarde xadrez banheiro minutos antes boa tarde oi ei tudo bom interrogação caminha chega de verdade senta sente cansaço café levanta e pega e senta e bebe e bebe quente gostoso forte açúcar preto fundo mole sentado escreve lê corrige vai volta gole digita ouve assente muito ouve muito tenta compreender não explica não refaz de novo gole música não oi desculpa faço sim não gole vazio plástico lixo lixa para nervoso passam pessoas perguntas horas lanche dinheiro pouco trabalha mais não recebe ainda um mês ainda termina ouve elogio aleluia reconhecimento chuva curva corpo copo café mais fim apanha coisas levanta pega vai tchau até amanhã até logo até chega caminho no caminho poça música sim pisca casa finalmente sapato alívio meia ai a beleza que existe estala chão quase frio banheiro necessidade chuveiro ruim sim não não interrogação graças aos meninos a deus a mim a ideia aleluia água quente calma respira ai alívio relaxa para escorre sabão bão ai costas água escorre toalha enxuga chá chega chaga cama deita levanta lâmpada deita cobre fecha abre olha escuro fecha dorme não merda dorme não suspira mexe vira bruços ajeita pensa sorri ela sim travesseiro dorme acorda espera desliga

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Movimento artístico

TÃO DIFÍCIL QUANTO TRAÇAR UM CAMINHO É SEGUI-LO. A escrita, a música, o cinema, a culinária, a fotografia, as pessoas, os passos, o rumo que leva ao reconhecimento, o rumo que toma o vento outrora vindo do norte, do sul, do noroeste, da respiração de alguém cujo esforço para ser uma pessoa melhor cresce todos os dias; é tudo abstrato e aberto como somente um movimento artístico pode ser.

As curvas que a arte faz, são tão rápidas quanto um sorriso disparado sem querer ou o coração de um beija-flor. Percorrer a tortuosa escadaria que é galgada pelos artistas nunca foi fácil e a história mostra em suas páginas amareladas o suor daqueles que combateram seus próprios limites, degrau a degrau. Não dá para ser medíocre com a arte. Se somos medianos aos olhos dela, o impacto artístico em nossas mentes e corações é tão mediano quanto o próprio limite.

A emoção advinda de um filme, de uma música, de um livro inteiro ou de uma única poesia é o trabalho árduo de alguém. O reconhecimento desse alguém às vezes é público, mas na maioria das vezes é privado e torna-se inerente. Os indivíduos vão se construindo (e reconstruindo) com cacos que encontram pela vida. O ser humano é um mosaico, ou um vitral com tantas cores que o espectro se torna o que? O limite.

Conseguir um mapa de tesouro ou ter o tesouro em mãos não importa. Se não nos extrapolamos, não entendemos a mensagem e tampouco digerimos e nos alimentamos com os combustíveis nos disponibilizados para uso próprio ou coletivo. 

Meu combustível é a arte por que não só de fins-da-linha vive o ser humano: eu consumo a arte e ela me consome. Eu caminho e ela caminha ao meu lado. Sempre.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Outro filé ao oratório, por favor

QUAL É O SABOR DA AMIZADE? Sempre imagino algo agridoce, contudo, não. Não é agridoce ou mesmo quase doce. A amizade é salgada e suculenta e opulenta. Observa-se, ainda que a fila seja enorme e que as horas continuem com a mania de voar, um afeto importante cuja intensidade se intensifica quase naturalmente.

Eu sei que não sou muito esforçado para cultivar uma amizade desde o plantio da semente e talvez tenha muita dificuldade na manutenção e na irrigação, mas juro que tento, mesmo que aos trancos e barrancos. Tudo o que eu não quero é deixar uma margarida morrer como a luz que se apaga ou o filé que finda.

Por isso, proponho pedir outro filé ao oratório, companheiro garçom, que não é menino mas sorri como se fosse; por minha conta e por nossas contas, esse filé serve três pessoas, correto, certo e acompanha torradas e comentários efusivos e divertidos em gorgonzola, não é mesmo, o gostinho dos campeões e dos champignons. É isso que eu quero. É isso que nós queremos? Eu quero esse sabor de amizade, de conversa fiada, de fim de noite paradoxal, pois também inicia o dia. Quero mais tempero sem passar do ponto.

Eu tenho uma melhor amiga, mais que isso até, mas quero mais amigas e mais amigos e quem sabe outros pratos para dividir, outros táxis, outros pensamentos e outras filas. Por que para quem esperou nove meses para esperar uma vida, compartilhar esses novos momentos de aguardo e aguardar esses novos momentos de partilha faz um bem danado.

Não feche a conta ainda, estamos só começando.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Virada

O FIM DO ANO É SEMPRE IGUAL E DIFERENTE CEM PORCENTO DAS VEZES. As pessoas se reúnem e festejam a passagem de mais um ano de sucesso, ou não. Todos ficam felizes com o que pode vir de bom dos próximos doze meses, ou não. A maioria faz promessas compridas que não serão cumpridas, ou não. Todo mundo deseja um próspero ano novo, ou sim. Quase ninguém quer desejar coisas específicas o suficiente para demonstrar apreço e preocupação.

Por isso, um dia, um ser humano teve uma ideia. Sua colheita de beterrabas estava ruim ao final de um ano qualquer e um ser humano qualquer disse a ele: “Acalme-se, o próximo ano será próspero”. O ser humano, além da horrível colheita, tinha outro “problema”: não se importava muito com a vida dos outros mas era, o tempo todo, pressionado pelo Mundo a manifestar-se favorável a respeito do próximo ano de seus semelhantes, assim como aquele da colheita havia feito. O ser humano lembrou-se exatamente disso e de sua vida e de sua colheita, beterrabas, pessoas; a resposta estava no “próspero”. Se ele desejasse um “próspero ano novo” às pessoas, estas, admiradas com a gentileza e com a estranheza da palavra, ficariam felizes.

Esse ser humano amaldiçoou as gerações futuras e hoje somos cada vez mais obrigados a sorrir e desejar toda a sorte de coisas para toda a sorte de pessoas com quem simplesmente não nos importamos. A trivialidade e a falta de intenção empregadas em um desejo que é formado por simples “educação” são similares ao silêncio. E, de acordo com a lei do mínimo esforço, o silêncio vence como tesoura vence papel.

Na virada de 2014 para 2015, eu decidi que não ia me preocupar muito com o que pensam sobre mim. Primeira resolução. Comecei com infinitos desejos para aqueles que moram no meu coração e podem continuar o quanto quiserem – seja os moradores com casa própria, aluguel ou seja aqueles que dormem em barracas. Inclusive, estou pronto para dizer que, se eles quiserem, eu mesmo ajudo a construir casas que não serão derrubadas pelo sopro do lobo mau no meu condomínio sangrento-no-bom-sentido. No sentido de estar vivo e de querer que outras pessoas continuem vivas. No sentido de estar bem e querer o bem.

2015, há vagas.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Bem-vindo, Verão

O CALOR VERDADEIRO É AQUELE QUE TE AGRIDE. Estou sendo atacado de todos os lados por essa força impiedosa e intransigente. Não adianta ventilador, ar condicionado, banheira de gelo. Ele está por toda parte, por que Ele é onipresente e onipotente. O calor me atinge como concreto arremessado na barriga. E dói, como dói!

A boca do estômago está com gosto de fel e o leite azeda no caminho da geladeira à mesa. O ovo frita instantaneamente na queda entre casca e asfalto. Assim não dá. Meu nariz sangra ao pensar em garotas de biquíni e, durante a madrugada, a hemorragia vem da secura do verão sem fim. O suor não escorre da minha testa, escorre de outros suores, e quem dera fossem somente meus. Os fluidos corporais das pessoas estão se propagando para todos os lugares e não somem, ficam impregnados. É impressionante. Na academia, por exemplo, as paredes estão suando – ou chorando.

Assim não dá. Adoro o Verão, estava até contando os dias para o início do mesmo junto com uma página de Facebook do Rio de Janeiro, e quero, inclusive, que ele fique mais que três meses conosco, contudo está faltando um pouco de discrição por parte dele. Desde o solstício que não durmo direito. O ventilador faz muito barulho, atrapalha o sono. Desligo. O calor me ataca mais rispidamente. Acordo. Ligo o ventilador. Não durmo. Sinto calor, porque desliguei o ventilador mais uma vez. O sol nasce. É implacável demais.

Alguém, por favor, diga ao Verão que não é a visita quem faz a recepção calorosa, são os anfitriões sorridentes. E se ele, Verão Sem Fim, quiser companhia viva e em forma sólida, ele, Magnífico, vai ter que diminuir a potência dos raios UV e a temperatura desse forninho-elétrico chamado Terra, codinome Inferno na Terra que podemos chamar só de Inferno mesmo.

Aceite bem essas críticas, tá bem, Poderoso. Uma hora, irá embora e vai chegar o Outono, que é mais seco. Veja bem. Ainda gosto de você. Peço somente menos alegria, menos estardalhaço. Ninguém quer o seu mal, assim como ninguém precisa ficar mal. E tem outra, você não vai ser nem abandonado nem esquecido. Nunca! Jamais! Quem te viu, viu; os que perderam, outrora ainda verão. Bem-vindo. Qualquer quantidade de protetor solar ainda não é suficiente. Não se acanhe, fique à vontade. A casa é sua. Março ainda demora a chegar.