segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Outro filé ao oratório, por favor

QUAL É O SABOR DA AMIZADE? Sempre imagino algo agridoce, contudo, não. Não é agridoce ou mesmo quase doce. A amizade é salgada e suculenta e opulenta. Observa-se, ainda que a fila seja enorme e que as horas continuem com a mania de voar, um afeto importante cuja intensidade se intensifica quase naturalmente.

Eu sei que não sou muito esforçado para cultivar uma amizade desde o plantio da semente e talvez tenha muita dificuldade na manutenção e na irrigação, mas juro que tento, mesmo que aos trancos e barrancos. Tudo o que eu não quero é deixar uma margarida morrer como a luz que se apaga ou o filé que finda.

Por isso, proponho pedir outro filé ao oratório, companheiro garçom, que não é menino mas sorri como se fosse; por minha conta e por nossas contas, esse filé serve três pessoas, correto, certo e acompanha torradas e comentários efusivos e divertidos em gorgonzola, não é mesmo, o gostinho dos campeões e dos champignons. É isso que eu quero. É isso que nós queremos? Eu quero esse sabor de amizade, de conversa fiada, de fim de noite paradoxal, pois também inicia o dia. Quero mais tempero sem passar do ponto.

Eu tenho uma melhor amiga, mais que isso até, mas quero mais amigas e mais amigos e quem sabe outros pratos para dividir, outros táxis, outros pensamentos e outras filas. Por que para quem esperou nove meses para esperar uma vida, compartilhar esses novos momentos de aguardo e aguardar esses novos momentos de partilha faz um bem danado.

Não feche a conta ainda, estamos só começando.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Virada

O FIM DO ANO É SEMPRE IGUAL E DIFERENTE CEM PORCENTO DAS VEZES. As pessoas se reúnem e festejam a passagem de mais um ano de sucesso, ou não. Todos ficam felizes com o que pode vir de bom dos próximos doze meses, ou não. A maioria faz promessas compridas que não serão cumpridas, ou não. Todo mundo deseja um próspero ano novo, ou sim. Quase ninguém quer desejar coisas específicas o suficiente para demonstrar apreço e preocupação.

Por isso, um dia, um ser humano teve uma ideia. Sua colheita de beterrabas estava ruim ao final de um ano qualquer e um ser humano qualquer disse a ele: “Acalme-se, o próximo ano será próspero”. O ser humano, além da horrível colheita, tinha outro “problema”: não se importava muito com a vida dos outros mas era, o tempo todo, pressionado pelo Mundo a manifestar-se favorável a respeito do próximo ano de seus semelhantes, assim como aquele da colheita havia feito. O ser humano lembrou-se exatamente disso e de sua vida e de sua colheita, beterrabas, pessoas; a resposta estava no “próspero”. Se ele desejasse um “próspero ano novo” às pessoas, estas, admiradas com a gentileza e com a estranheza da palavra, ficariam felizes.

Esse ser humano amaldiçoou as gerações futuras e hoje somos cada vez mais obrigados a sorrir e desejar toda a sorte de coisas para toda a sorte de pessoas com quem simplesmente não nos importamos. A trivialidade e a falta de intenção empregadas em um desejo que é formado por simples “educação” são similares ao silêncio. E, de acordo com a lei do mínimo esforço, o silêncio vence como tesoura vence papel.

Na virada de 2014 para 2015, eu decidi que não ia me preocupar muito com o que pensam sobre mim. Primeira resolução. Comecei com infinitos desejos para aqueles que moram no meu coração e podem continuar o quanto quiserem – seja os moradores com casa própria, aluguel ou seja aqueles que dormem em barracas. Inclusive, estou pronto para dizer que, se eles quiserem, eu mesmo ajudo a construir casas que não serão derrubadas pelo sopro do lobo mau no meu condomínio sangrento-no-bom-sentido. No sentido de estar vivo e de querer que outras pessoas continuem vivas. No sentido de estar bem e querer o bem.

2015, há vagas.